Segundo especialistas ouvidos pela EXAME, o movimento inicial de
volatilidade do petróleo é normal e não deve impactar os preços da gasolina e
do diesel no curto prazo. Preocupação é com cenário de longo prazo. A extensão
da guerra entre Israel e Hamas e a entrada de outros países no conflito pode
trazer consequências para o bolso do brasileiro, com impacto nos preços dos
combustíveis. Na segunda-feira, 9, o petróleo Brent subiu 4,22% em clara reação
ao conflito no Oriente Médio. A commodity, que vinha em queda nas últimas
semanas, chegou a US$ 88. Nesta terça-feira, o Brent recuou 0,57%, a US$ 87,65.
Apesar de Israel e da Palestina não produzirem petróleo, a preocupação do
mercado é com a escalada do conflito. Segundo especialistas em combustíveis
ouvidos pela EXAME, esse movimento inicial de volatilidade é normal e não deve
impactar os preços da gasolina e diesel no curto prazo, mas a preocupação é com
cenário de longo prazo. Para Amance Boutin, especialista em combustíveis da
Argus, passada a apreensão inicial, os preços do petróleo devem voltar ao
patamar anterior, assim como ocorreu após o início da guerra entra Rússia e
Ucrânia, e por isso será difícil que qualquer alta seja repassada ao
consumidor. "Importadores e produtores que atuam no ambiente doméstico
enfrentaram situação similar no ano passado, com o conflito entre Rússia e
Ucrânia, e devem evitar repasses de preços imediatos ao varejo. Repasses de
alta costumam ser mais lentos que os de baixa, na visão de importadores",
disse. Na mesma linha, Sérgio Araujo, presidente da Associação Brasileira dos
Importadores de Combustíveis (Abicom), afirmou que os preços do petróleo e
derivados são muito sensíveis aos movimentos geopolíticos. "Na minha visão
são movimentos especulativos, uma vez que o conflito não impacta diretamente a
cadeia de suprimentos dos combustíveis. O risco de maior impacto poderá surgir
caso seja confirmado o envolvimento do Irã e, com isto, houver impacto na
sanção aplicada àquele país", explicou.Entrada do Irã na guerra pode encarecer
os combustíveis A preocupação dos especialistas é com o suposto envolvimento do
Irã — um grande produtor de petróleo — no conflito. Segundo reportagem do Wall
Street Journal, o país teria participado da organização dos ataques em Israel
ao lado do Hamas. O Irã negou participação na operação do grupo terrorista.
Igor Lucena, economista e doutor em Relações Internacionais na Universidade de
Lisboa, explica que a entrada do Irã no conflito, somada a outros fatores como
a diminuição da produção da commodity e a guerra na Ucrânia, pode resultar em
um aumento do preço do barril do petróleo para mais de US$ 90. "Não há
dúvida de que existem fatores geoeconômicos e macropolíticos que podem
pressionar o preço do barril do petróleo", disse. Lucena avalia ainda que
a intensidade e o tempo de conflito vai definir qual será o impacto nos preços
do petróleo e, consequentemente, no valor do combustível aos brasileiros.
"Se o conflito aumentar de intensidade e tiver outros players dentro da
região, vamos ver um aumento realmente considerável de petróleo e gás. No
final, a Petrobras não vai conseguir segurar os preços e vai precisar
repassar", explicou. Em entrevista coletiva para comentar o relatório
Panorama Econômico Mundial, divulgado nesta terça-feira pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI), o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI),
Pierre-Olivier Gourinchas, afirmou que a guerra pode elevar o preço do petróleo
e reduzir o crescimento global. Segundo cálculos do economista-chefe do FMI, um
aumento de 10% nos preços do petróleo reduziria o crescimento do produto
interno bruto (PIB) mundial em 0,15% e elevaria a inflação global em 0,4%.
Porto de Israel fechado pode afetar preço do diesel Na segunda, 9, o presidente
da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que o mercado ficará mais volátil com o
conflito, principalmente o diesel, que já vinha pressionado. A fala do
executivo se justifica pelo fato de o diesel ter parte de seu suprimento
importado. Boutin, da Argus, explica que a extensão da guerra pode provocar um
efeito dominó noviço e, como consequência, pressionar um aumento no Brasil. Ele
explica que parte do suprimento do diesel da Europa é importado da Índia. O
país asiático utiliza o porto de Ashkelon, em Israel, como parada para
descarregar navios de diesel de grande porte e distribuir o produto em navios
menores direcionados para países europeus. O porto de Ashkelon está
temporariamente fechado por conta da guerra, impedindo o frete de navios para a
Europa. O especialista da Argus acredita que isso pode fazer com que os
europeus busquem o combustível nos Estados Unidos. "Embora os Estados
Unidos agora tenham uma participação menor nas importações de diesel do Brasil,
a alta de preços no mercado americano pode sustentar as ofertas de venda do
atual principal fornecedor do Brasil: a Rússia. Mas, de novo, ainda é cedo para
determinarmos uma alta de preços iminente, pois pode haver uma acomodação do
mercado em relação aos conflitos", explicou.